sexta-feira, 1 de abril de 2016

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

"Ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente”

https://www.youtube.com/watch?v=M3icM7lgixU

O que fazer diante da consciência? Hamlet percorreu cindo atos na maior peça em tamanho de Sheaskspeare, para testar a amizade com Marcelo. Para testar a falsa amizade com Rosecrantz. Para descobrir que sua mãe cedeu apenas a sua sensualidade. Para descobrir que seu pai quer vingança. E para chegar ao ponto em que tendo matado Polônio, tendo matado Cláudio, tendo se envolvido numa trama que levará a morte sua mãe, que levou ao suicídio de Ofélia, que matou o irmão de Ofélia, e que Le próprio acabou sendo ferido pela espada envenenada, em que El passou por toda provação, ele está pronto a gora a olhar as coisas com objetividade. Como a peça segue regras retóricas,  como todas as grandes tragédias, a personagem deve se mutilar ou morrer ao final. Ou ela deve matar ou ser morta ou se mutilar. Édipo arranca os olhos, Efigênia, Izmália, todas as personagens trágicas, da Grécia até amor de perdição, de Camilo castelo Branco a Sófocles atrás, todas as grandes peças nós temos que purgar, temos que chegar à catarse, e Hamlet nos oferece um caminho um pouco distinto, não é necessário que você mate a oito pessoas e a si, para que você atinja a sua consciência. É necessário que pela primeira vez na vida, diz o Hamlet em longos monólogos, você consiga dizer apenas o que as coisas são. E para isso Hamlet tem que se fingir de louco. Me disse um psiquiatra no Rio de Janeiro, num congresso, que quando ela era  diretor da Pinel na década de 70, todos os esquizofrênicos e outros abalados andavam pelo pátio da pinel fazendo isso (gesto imitando falar ao celular), andando pra lá e pra cá, falando num telefone imaginário. E ele descobriu que com a invenção do celular, todos andam assim, e que os esquizofrênico0s apenas era visionários do que seria nesse momento. Diz ele também que todos os com síndrome persecutória viam câmeras os filmando de todos os lados, e hoje nós estamos sendo filmados de todos os lados. Os loucos foram apenas faróis da raça, pessoas que intuíram o que aconteceria. Porque como escreveu Erasmo no “elogio da loucura” às vezes é preciso ser louco pra dizer o óbvio. Às vezes é preciso ser louco pra dizer que todos os problemas que nos são mostrados na televisão, são problemas falsos pra que nós não vejamos os reais, que todas as fotos que são exibidas nas revistas são enganos de consciência pra que eu não veja o que eu não quero ver, o rosto da Medusa. Que todas as festas são um barulho alto pra impedir que eu expresse a melancolia densa e profunda da minha existência. E que quanto mais eu fotografar e passar adiante e comunicar, e quanto mais eu escrever potássio, potássio, potássio, (kkk) é maior sinal que eu estou triste, que eu estou precisando que o mundo inteiro curta a vida que eu não estou curtindo, que o mundo inteiro me diga como é legal a vida que eu próprio estou achando insuportável. E se muitas pessoas me disserem isso, eu consigo evitar que o resto seja silêncio, eu consigo evitar a solidão, eu consigo finalmente descobrir que eu vivo em sociedade, mas que a minha consciência é minha, o meu projeto é meu, a minha vida é absolutamente minha, que ela é resultado das minhas escolhas, que o meu eu e imperativo, que eu estarei onde eu desejar, construirei a família que eu desejar, a partir de uma série de reflexões, que vão interagir com o real, que vão interagir com a decisão das outras pessoas. Escreveu, em espírito Foucaultiano, um filósofo, que nós estabelecemos hospícios a partir do século XIX, pra que tivéssemos certeza que os que estão lá dentro são loucos, logo por consequência, conclusão lógica “eu não sou”. Se eu não estou no hospício, há uma chance grande de eu não ser louco. A idade média não tinha hospícios porque a separação entre loucos e não loucos era muito mais fluida, na idade média. Hamlet nos diz que nós temos que estabelecer poderes, temos que estabelecer cenas, temos que estabelecer etiquetas, formalidades porque eu não aguento constatar que todo o mundo é um teatro e que o papel que eu estou representando e que cada um que representa na sua vida é insuportável. Porque não é o papel que eu escrevi, não é o papel que eu queria e não é o papel absolutamente daquilo que eu desejava. Recebi uma revelação de um senhor que muito simples, porteiro de um local que eu frequento, confessou que retirou todo o seu fundo de garantia de uma vida inteira pra assistir, não vou identificar o time, que ele seguia e que jogaria no Japão na final do mundial de clubes. Ao narrar isso, todas as pessoas que ouviram a história ficaram horrorizadas. Como é que uma pessoa tira o produto de uma vida do banco e vai vero time num país distante? Numa viajem caríssima que o Japão? E eu pensei “é provável que seja a única coisa que ele fez, absolutamente notável, épica e dele. E todas as outras, guardar dinheiro, comprar casa, financiar, entrar num programa habitacional e trabalhar todos os dias sejam o palco do qual ele foi ensinado pela família, por Deus, pela religião, a funcionar”. Na insanidade desse porteiro, ele pela primeira vez foi alguém, e quando ele tiver netos talvez ele diga a única coisa que ele fez a vida interia “vovô tirou todo o dinheiro e foi ver o time ser campeão em Tóquio”. Os netos não saberão como ele não sabe bem onde fica Tóquio, mas aquele ato extremo, ousado, terrivelmente épico, foi a grande insanidade lógica que deu luz e sentido à vida dele. Hamlet está dizendo, quando todo mundo é normal, racional, equilibrado, poupa, tem plano de saúde, se veste equilibradamente, combina bege com marrom, azul marinho com azul celeste, usa sapato preto fechado, quando as mulheres vão pra entrevista com colar de pérolas e tailler, e os homens vão de terno escuro e gravata bordeaux, quando todos dizem que querem contribuir para a empresa, e querem dar tudo de si em nível de pessoa enquanto gente, para que essa empresa cresça, quando todos publicam que são felizes, quando todos dizem sem cessar “esta é minha vida e minha vida é legal” porque “eu estou viajando”, porque “eu estou comendo esse prato” vejam, quando todos dizem a mesma coisa eu preciso dizer que "Ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente". 

domingo, 3 de abril de 2011

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

favela

by b andidartista

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

quadrinhos janeiro de 2010


by Bandidartista, janeiro de 2010