segunda-feira, 24 de março de 2008

Autocrítica – falta de tempo em nosso tempo

Para preencher os vazios de seu tempo. Criação. Fazer. Qualquer material serve ou, melhor dizendo, é aproveitado. André Luís Fernandes da Rocha faz crer que, assim, tudo é possível. Desde convescotes artísticos até a dar vida a personagens que povoam o seu dia-dia. Tentando disseminar informações da maneira possível, fotocópias, gravura básica com colher, prensa, correios eletrônicos e diários virtuais.

As fotografias também preenchem esse tempo, ou a falta dele. Mas o tema é sempre o mesmo: tudo é possível. Práxis! Dentro de uma época onde os conceitos são despedaçados, a crítica é inoperante e o Deus Mercado tudo engole, alguns ainda pensam em algo fazer. Fazer. Neste sentido, ele faz.

flautista: boneco de pano. do autor

Entretanto, seu foco e objetivo não são atingidos. Para atingir o mercado e todo o seu sistema, para abalar as estruturas e desenvolver um senso crítico ao fruidor artístico, no caso da arte de André, a mensagem parece não chegar. Não ao seu objetivo. É de duvidar, aliás, que consiga mirar no sistema que ele tanto critica. Sua crítica marxista se perde em um mundo referencial que não permite uma crítica seca, pontual e visceral.

Talvez, toda esta intenção tenha sentido, ou seja, alguém mostrar a cara e dizer ao mundo que o caminho tomado por este está errado, desviado e nos levando à barbárie. O que falta, no entanto, é uma virulência e ferocidade que anda meio por baixo exatamente nos vazios não do tempo deste artista, mas da esmagadora maioria desta classe. Se é que é classe.

Manifesto a falta de tempo

Não tenho tempo... Quem tem? Que tempo se vive hoje? Quis criar... Criei. Criação. Quis fazer algo. Fiz. Que material eu usarei? Estou usando algum material. E os que não usei? Em meio a uma inquietação geral, fiz de minha arte o preenchimento de meu tempo. Meu... Será do tempo em que vivemos? Preciso de um público. Para quê? “Será realmente necessário”. Ou... se eu colocar uma interrogação no final não ficará melhor... Vejamos: “Será realmente necessário?”. Onde quer que se vá, diz-se que a arte se completa com o público... Na arte atual talvez. Ah! Arte esta escrita entre aspas... “arte”...

Desejei fazer manifestos como os dos expressionistas... Aquelas xilogravuras sempre me lembrarão operários na fila da greve... “Isto ainda é possível”... Droga! Novamente a dúvida sobre a interrogação... “Isto ainda é possível?”. Mas o que não é possível? Peguemos um grupo de amigos e sentemos a uma mesa portátil... Tomemos chá no meio da rua. Alguns panfletos servem... Disseminemos informações. Idéias e posicionamentos. A nova, não tão nova tecnologia traz avanços para essas disseminações. Se perdermos em veracidade de obra, ganharemos em possibilidades de disseminação comunicacional... Usem-se as fotocópias, as xilogravuras básicas com colher, prensas enferrujadas jogadas em um canto, correios eletrônicos e diários virtuais! Não podemos deixar a idéia morrer! Pegaremos retalhos de tecidos mofados em um canto da casa, amalgamaremos com fitas adesivas e linhas de costura. Disto nascerão nossos seres do dia-dia. Um retrato do que nos rodeia.

Goeldi

Nunca se imaginou nos tempos do daguerreótipo que 173 anos depois aqui, no sul do mundo, onde faz calor no verão e os invernos tem frios bem marcados, alguém não parasse de fotografar. Um olhar, um rosto, gatos, uma paisagem pretensamente poética. Herança de uma infância cheia de imagens. Imagens essas extraídas de um tempo em que não se tem tempo, mas que se têm momentos, lugares, visões, sonhos e pura poesia.


24 de março de 2008
bandidartista